O poder da persuasão
Um psicólogo de Harvard mostra por que alguns líderes são mais eficazes que outros
A dupla de pesquisadores americanos
Daniel Kahneman e Vernon Smith ganhou o Prêmio Nobel de Economia por demonstrar
que o comportamento humano é uma variável crítica do funcionamento dos mercados.
Com essa teoria, a psicologia obteve relevância entre os economistas. Um livro
que chega às livrarias brasileiras em outubro deve dar novo impulso à psicologia
e já se tornou leitura obrigatória para quem está à frente de um negócio.
Trata-se de Changing Minds -- The Art and Science of Changing Our Own and Other
People's Minds (Mudando pensamentos -- a arte e a ciência de mudar as nossas
idéias e as de outras pessoas). Seu autor é o psicólogo americano Howard Gardner,
professor na Universidade de Harvard.
No livro, Gardner mostra como líderes tão diferentes como o indiano Mahatma
Gandhi e Jack Welch, ex-presidente da GE, conseguiram influenciar seu público e,
assim, levar adiante suas idéias. Gardner enumera sete "alavancas" que ajudam os
líderes a persuadir pessoas, sejam elas políticos, executivos ou artistas:
Razão: a apresentação lógica das
idéias.
Pesquisa: utilização de informações
relevantes na argumentação.
Ressonância: a idéia deve "parecer
certa" para o público.
Redescrições representacionais:
termo técnico que em bom português significa contar uma boa história.
Recursos e prêmios: a audiência
precisa ser seduzida e achar que ganha ao apoiar o chefe.
Acontecimentos do mundo: crises,
guerras, furacões, tudo isso pode facilitar a mudança de pensamento.
Resistências: o líder deve estar
preparado para elas e saber como combatê-las.
Como isso funciona na prática? O caso de Margaret Thatcher é exemplar. Obcecada
por dados e estatísticas, a ex-primeira-ministra inglesa era uma estadista bem
informada, com argumentação sólida e convincente. A mensagem para o povo era
simples e clara: o país precisava sair da crise e recuperar a importância
mundial que tivera no passado. Sua imagem pessoal -- a de uma mulher de origem
modesta, que se fizera sozinha, com uma personalidade combativa -- reforçava seu
discurso. Embalada dessa forma, a virada proposta por Thatcher não parecia um
sonho, mas sim algo verossímil.
Gardner também cita exemplos de líderes que não conseguiram mudar o pensamento
das pessoas -- e com isso acabaram destronados. Ex-presidente da Monsanto,
entusiasta dos alimentos geneticamente modificados, Robert Shapiro queria
transformar a Monsanto numa empresa de biotecnologia, mas não conseguiu
convencer o público de que os transgênicos eram uma boa idéia. Em 1998, numa
conferência em São Francisco, um ativista chegou a atirar uma torta no rosto do
executivo. "Nós provavelmente irritamos e antagonizamos mais pessoas do que
persuadimos", disse ele a um grupo de acionistas na época. Em 2000, Monsanto e
Pharmacia se fundiram e Shapiro deixou a nova empresa pouco tempo depois.
Por
Cristiane Corrêa