Lealdade dá lucro
Manter empregados e clientes satisfeitos tem efeito positivo na coluna de custos
Por Frederick E. Reichheld e Christine Detrick
EXAME
Muitas empresas estão desperdiçando uma grande oportunidade de
manter os custos em níveis baixos. Elas deveriam construir relações de lealdade
com empregados e clientes. Enquanto várias companhias têm de apertar o cinto e
cortar despesas, o fundo de investimentos americano Northwestern Mutual
orgulha-se de jamais ter demitido alguém em seus 146 anos de história. Além
disso, oferece um pacote completo de compensações que inclui remuneração e
benefícios e é um dos mais bem cotados de toda a indústria. Segundo Ed Zore,
presidente e executivo-chefe da empresa, a baixa rotatividade dos profissionais
de vendas não só reduz custos decorrentes da contratação de novos talentos como
aprofunda a experiência e o profissionalismo de sua equipe. Zore calcula que a
lealdade entre funcionários, representantes da área financeira e clientes
implica uma economia para a empresa de cerca de 400 milhões de dólares por ano.
Qual seria o ponto de partida dessa lealdade? Para a MBNA, administradora de
cartões de crédito, ela começa com a contratação dos profissionais certos. A
empresa não poupa investimentos na seleção e no preparo de sua gente, tendo
sempre em vista a formação de uma equipe leal. Os candidatos passam por um
processo de entrevistas bastante extenso que inclui reuniões com executivos da
empresa. Os novos funcionários aprendem o bê-á-bá do negócio em ambientes de
sala de aula e no trato direto com os clientes, com supervisão individualizada.
Uma das formas que a MBNA usa para encorajar a lealdade é divulgar diariamente
os índices de desempenho que têm a ver com metas de satisfação dos clientes.
Sempre que toda a empresa atinge mais de 90% das metas, os funcionários ganham
bônus. O resultado? Forte cooperação entre os departamentos, para atingir os
objetivos que vão beneficiar todos, assim como aos clientes.
Nos negócios em que o relacionamento com o cliente conta muito, como nos setores
bancário e de seguros, a existência de um quadro de funcionários leais e
capacitados é de importância fundamental para a conquista e a preservação dos
clientes certos. Na Northwestern Mutual, 96% da clientela atual permanece fiel à
empresa ano após ano. Isso gera economia enorme. No setor de serviços
financeiros, um crescimento de 5% na retenção de clientes leva a uma elevação de
lucros superior a 25%. Por quê? O cliente que não abandona a empresa tende a
comprar mais com o passar do tempo, e o custo operacional para servi-lo cai. Ele
freqüentemente paga um prêmio para ficar onde está em vez de migrar para um
concorrente com o qual não está familiarizado. Além disso, recomenda sua empresa
a outros.
É claro que nem todos os clientes geram lucros e nem todos permanecem na empresa
pelo tempo desejado. A relação custo-benefício é que determinará quais se
encaixam nesse perfil, de modo que a empresa possa direcionar os investimentos
necessários à construção do relacio namento. Um bom exemplo disso é a Vanguard,
líder de custos entre os fundos de investimentos. A margem de despesas da
Vanguard -- a razão entre seu custo total e os ativos que gerencia -- é de
apenas 0,26%, enquanto a média da indústria é de 1,4%. Isso se deve, em parte,
ao fato de que o executivo-chefe Jack Brennan, a exemplo de seu predecessor,
John Bogle, acha-se comprometido com a permanência do cliente.
Brennan se empenha sobretudo na escolha do cliente certo -- aquele que demonstra
potencial de longa permanência na empresa. Há alguns anos, por exemplo, a
Vanguard rejeitou um investidor institucional que se dispunha a ingressar com 40
milhões de dólares em um determinado fundo. A empresa desconfiou de que se
tratava de um cliente que não tardaria a bater em retirada, gerando custos
adicionais para os demais. O cliente preterido queixou-se ao The Wall Street
Journal. Brennan, porém, não voltou atrás. Ao contrário, ele aproveitou o
incidente para enfatizar a necessidade de selecionar rigorosamente a clientela.
A MBNA também é muito exigente quanto ao perfil do cliente. A empresa privilegia
os grupos de afinidade, como ex-colegas de faculdade e membros de organizações
profissionais e de lazer. Esses indivíduos candidatam-se à obtenção de cartões
de crédito movidos por um sentimento de filiação. Com essa estratégia, a empresa
ganhou a adesão de grupos de clientes que não apenas apresentam menos riscos de
crédito, mas também têm maior propensão a se tornar leais.
Clientes leais, por sua vez, podem vir a ser acionistas leais. Como se trata de
empresa de fundo mútuo, em que as políticas da companhia são elaboradas pelos
acionistas, a Northwestern Mutual não sofre as mesmas pressões de lucratividade
no curto prazo que sofrem as instituições financeiras com ações cotadas em
bolsa. Isso permite à empresa trabalhar com perspectivas de longo prazo. "Em um
negócio cuja base é o relacionamento", diz Zore, "nunca é demais enfatizar o
efeito combinado da lealdade entre funcionários, equipe de vendas e clientes."
Quais seriam os segredos das empresas campeãs de lealdade? Eis alguns:
Elas mudaram os incentivos para a conquista de clientes -- recompensando as equipes que trazem clientes leais. Em alguns casos, há redução de bônus e de comissões, se os clientes abandonarem a empresa antes de 18 meses.
Elas mudaram os investimentos de marketing -- avaliando sistematicamente as campanhas e investindo mais recursos naquelas que atraem mais clientes leais.
Elas descobriram meios de ajudar os
colaboradores que apresentam desempenho fraco -- utilizando avaliações rigorosas
para todos os funcionários.
Não há empresa que seja imune às pressões do mercado. Mas as que se comprometem
com o desenvolvimento de relações calcadas na lealdade, que pela própria
natureza diminuem custos, têm muito mais chance de se manter firmes em meio às
turbulências do mercado.
Frederick Reichheld é diretor emérito da consultoria Bain & Company e autor
de Princípios da Lealdade (Campus); Christine Detrick é chefe do setor de
finanças da Bain, na América do Norte